Esse chão por onde trilho todos os dias já foi terra dos índios Guaranis. Um tal de Jerônimo de Ornellas Menezes e Vascon-celos, um cara que foi cantado por Kleiton e Kledir, que lá no século 17 resolveu se estabelecer por essas bandas, iniciou a propagação desse território.
Porto de Viamão, Porto do Dorneles, Porto dos Casais, Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, ou hoje, simplesmente Porto Alegre.
E não é para menos... Porto que leva e traz alegrias. Porto que me conquistou.
Quando cheguei aqui, era um tempo em que a cidade vivia grandes transformações no seu jeito de ser, de pensar, na sua aparência e fundamentalmente na elevação da sua auto-estima. Uma nova época acendia para Porto Alegre e para mim também, por isso as mutações que advinham da cidade se processavam em mim, igualmente.
Se Porto Alegre fosse comparada a uma mulher, eu descreveria que naquele momento em que a encontrei, em 1992, ela estava se reafirmando independente depois de separar-se de um casamento frustrado com um marido bêbado e violento. Exatamente. Porto Alegre, assim como o Brasil inteiro, saiu muito feia, muito sofrida, muito escarnecida do malfadado casamento de 20 anos com a ditadura militar.
Precisava dar um “up” na sua aparência, precisava mudar seu comportamento, tomar pra si a nova era de liberdade.
E ela o fez como fazem as mulheres que conseguem se recobrar de cônjuges perversos. É bem verdade que foram necessários alguns anos de terapia, estudo, academia, estética, salão de beleza e pronto. Era uma nova mulher, pronta para a nova vida.
Como foi bom viver tudo isso junto com Porto Alegre. Claro que ela teve lá suas recaídas. Mas atire a primeira pedra quem nunca às teve.
Viver nessa cidade é ser arrebatada ao ver o sol penetrando com sensua-lidade e múltiplas cores nas águas do Guaíba aos finais de tarde. Viver aqui é conviver com o congraçamento do urbano e do rural, da terra e da água, da planície e da montanha, do inverno e do verão em uma simbiose que só Porto Alegre tem.
É se perder entre mil ruídos e efígies no Largo Glênio Peres. É abstrair toda a fábula das noites pelas ruas da Cidade Baixa. É a vibração ímpar produzida pelos grenais. É laborar com maestria nas manufaturas da Zona Norte. Também é recolher do chão o sustento pelas propriedades do Belém Velho. E é contemplar os encantos do rio pela Zona Sul.
Ah, Porto Alegre é tanta coisa...